Os versos em que me fico
e que no dia em que nascem
nesse dia morrem
assemelham-se ao que fazemos
da nossa vida, um dia,
porque breve tempo
é a mais longa vida
e menos ainda a juventude
que nela se encerra.
O tempo que não cessa nunca
concedeu-me o destino de conhecer-te,
a beleza que penso ter gozado intensamente
e que foi mostrada de forma repetida
a meus passivos olhos,
hoje lagos que a morte vai secando.
Não houve melhor destino que conhecer-te
e lamento que não tivesse havido em mim
poder que vencesse, ultrapassasse,
os parcos entraves que o futuro mostrou.
A flor que és,
não aquela que por vezes mostras,
eu quero
e sofro todos os dias a sombra que seria
se não tivesse teus olhos.
José Bento